Gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada Grandes Primatas. Nossos parentes mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orangotangos. Os chimpanzés são os mais próximos. Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas; uma delas tornou-se a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó.
Os chimpanzés comuns tem tendência a viver em grupos hierárquicos liderados por um macho alfa. Uma espécie muito próxima, os bonobos normalmente vivem em grupos mais igualitários dominados por alianças femininas.
É um tanto perturbador e talvez até fascinante pensar que nós, sapiens, possamos em algum momento da história, ter tido relações sexuais com um animal de uma espécie diferente da nossa e gerado descendentes. É uma provável possibilidade genética.
Os humanos surgiram na Africa Ocidental há cerca de 2,5 milhões de ano, a partir de um gênero anterior de primatas chamado Australo-pithecus, que significa macaco do sul.
Esses humanos arcaicos amavam, brincavam, formavam laços fortes de amizade e competiam por status e poder -mas os chimpanzés, os babuínos e os elefantes faziam o mesmo. Não havia nada de especial nos humanos de então. Ninguém, muito menos eles próprios, tinha qualquer suspeita de que seus descendentes algum dia viajaria para a Lua, dividiriam o átomo, mapeariam o código genético e escreveriam livros de história. A coisa mais importante a saber acerca dos humanos pré-históricos é que eles eram animais insignificantes.
Costumamos pensar em nós mesmo como os únicos humanos, pois nos últimos 10.000 anos, nossa espécie foi de fato a única espécie humana a existir. Porém, o verdadeiro significado da palavra humano é “animal pertencente ao gênero HOMO”. Antes disso haviam pelo menos 6 outras espécies desse gênero além do HOMO SAPIENS. Entre elas: o Homo Neandertalis; o Homo Erectus; o Homo soloensis; o Homo denisova; o Homo Ergaster; o Homo Rudolfensis, que aos poucos desapareceram. A explicação para isto talvez seja o próprio Homo Sapiens que apesar de muito mais fraco fisicamente, por ser mais inteligentee capaz de formar grupos maiores, extinguiu os outros humanos que existiam no planeta.
Na raiz do desenvolvimento da inteligência do Homo Sapiens está certamente sua alimentação mais variada, incluindo muito tutano que extraiam dos ossos de grandes animais, graças a ferramentas já mais elaboradas. Por volta de 300.000 anos atrás, os antepassados do Homo Sapiens usavam o fogo, um passo importante na melhoria da dieta humana, fator importante no desenvolvimento de potenciais de inteligência. O fogo também abriu a primeira brecha significativa entre o homem e outros animais. Ao domesticar o fogo, os humanos ganharam o controle decisivo de uma força potencialmente ilimitada.
Entre 70 mil e 30 mil anos atrás surgiu a Revolução Cognitiva. O que a causou, ninguém sabe ao certo. O fator alimentação deu com certeza sua contribuição. A teoria mais aceita afirma que mutações genéticas ampliaram acidentalmente as conexões internas do cérebro dos sapiens, possibilitando que pensassem de maneira sem precedentes e também passassem a utilizar sons para se comunicar de forma mais eficaz. Assim formou-se a primeira linguagem singular que evolui rapidamente como meio de partilhar informações entre o grupo. A partir daí o Homo Sapiens foi se definindo como animal social, facilitando a cooperação essencial para sobrevivência e até para a reprodução. As novas habilidades linguísticas adquiridas pelo Homo Sapiens há 70 mil anos que trocassem continuamente informações em forma de fofocas entre membros do grupo. Graças a informações precisas sobre quem era digno de confiança, pequenos grupos puderam se expandir para bandos maiores e os Homo Sapiens passaram a desenvolver tipos de cooperação mais sólidos e sofisticados. Mas a característica verdadeiramente única da nossa linguagem é a capacidade de transmitir informações sobre coisas que não existem no campo material. Até onde sabemos, só os sapiens podem falar sobre tipos variados de entidades que nunca viram, tocaram ou cheiraram. Foi quando lendas, mitos, e religiões apareceram pela primeira vez com a Revolução Cognitiva. As crenças foram assim encampadas por maiores grupos humanos que por acreditar nos mesmos mitos, passaram a cooperar entre si.
É preciso lembrar que toda cooperação humana em grande escala baseia-se em mitos compartilhados, que só existem na imaginação coletiva. Não há deuses que possam ser localizados no universo; não existem concretamente nações, dinheiro, leis, justiça fora da imaginação coletiva que desta forma produz um pacto coletivo que agrega a sociedade. Até, se pensarmos bem, os Estados se baseiam em mitos nacionais partilhados.
Contar historias eficazes não é fácil. A dificuldade está não em como contar a história, mas em convencer todos os demais e acreditarem nela. A capacidade de criar uma realidade imaginária com palavras possibilitou que um grande número de estranhos coopere de maneira eficaz, Mas também fez algo mais. Uma vez que a cooperação humana em grande escala é baseada em mitos e crenças, a maneira como as pessoas cooperam pode ser alterada modificando-se os mitos. Enquanto os padrões de comportamento dos humanos arcaicos permaneceram inalterados por dezenas de milhares de anos, os Homo Sapiens conseguiram transformar suas estruturas sociais, a natureza de suas relações interpessoais, suas atividades econômicas no intervalo de uma ou duas décadas. Isso foi essencial para o sucesso dos Sapiens e foi fatal para os outros espécimens humanos.
Em uma briga de um para um, provavelmente um Neandertal teria derrotado facilmente um Sapiens. Mas num conflito entre centenas, os Neandertais não teriam uma chance sequer. Sem a capacidade de criar amplos acordos baseados em ficções e crenças, os Neandertais não conseguiram cooperar efetivamente em grandes números, nem adaptar seu ambiente social para responder aos desafios em rápida transformação. A regra é: quem não se adapta, morre.
Olivier Perroy
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