Nossa existência é uma sequência de experiências, vivências. Algumas nos trazem alegria, outras tristeza.
Atravessamos fases de crise; ciclos de sucessos ou fracassos; períodos de doenças; momentos de alta vitalidade e entusiasmo. Passamos também por grandes contentamentos com nossos sonhos realizados. Outros sonhos nunca se realizarão no curso de nossa vida.
Somos atirados para cima e para baixo neste oceano revolto que é a vida. No entanto o Buda que participou de todas estas fases preserva aquele maravilhoso sorriso em seus lábios. Afinal, por que ele não para de sorrir?
Em primeiro lugar porque soube desfazer-se de seu ego, aquela falsa identidade que nos faz acreditar que somos apenas um ser frágil, um corpo vulnerável, uma mente instável tal qual um macaco. Nosso ego exagera sempre o impacto dos eventos de nossa vida. Através do ego, nossa visão dos acontecimentos é sempre distorcida e até irreal.
O ego nos apequena e nos traz o apego a desgraças, não nos deixa ver a fluidez mutante da realidade verdadeira.
O Buda nos ensina que a vida só acontece no momento presente. Tudo é aqui e agora. O passado tornou-se lembrança e o futuro ainda é uma projeção, um sonho. Porém nossa mente ególatra procura se apegar a misérias passadas ou a sonhos de glorias futuras. Assim vamos negando a dádiva maravilhosa que é o presente.
O Buda sorri por enxergar a beleza das possibilidades infinitas contidas no momento presente e que ainda não percebemos. Mas ele acredita que temos condições de sermos menos cegos. Esta é uma das mensagens que gostaria de os transmitir.
O Buda sabe que a vida se desenrola sob o signo da impermanência: sucesso, status, família, riqueza, pobreza, medo, dor, crises, tudo isto não vem para ficar. Tudo que acreditamos existir de fato, surge e passa como a sombra de uma nuvem.
Por que então se apegar como nos apegamos sempre? O apego é a grande fonte de muitos de nossos sofrimentos porque consideramos a impermanência como perda. Engano. O desapego gera liberdade, abertura e nos permite aceitar qualquer tipo de situação com graça e leveza, em dramatizar nada. Nos traz também aceitação, derrete nossas tensões, nosso stress.
O Buda dedica toda sua atenção ao momento presente. Ocupa-se e não se preocupa. Não deixa nada para depois. Nunca tem pressa. Está sempre relaxado. Não vive tensões. Não se fixa a expectativas de resultados eventuais daquilo que fez. Permite com confiança a generosidade da vida manifestar-se.
O Buda ama a cada um e a todos, sem preconceitos religiosos, sem apega-las a crenças. Fica conectado com tudo que existe pois percebe a unidade que rege o universo.
O Buda sente a tristeza de cada um porque graças a sua ilimitada compaixão entende que ainda não nos libertamos da ignorância, dos apegos, do egoísmo.
Ela encara a morte sem medo porque sabe que ela é um portal que deve ser atravessado para alcançar outras experiências espirituais ou até mesmo a verdadeira liberdade definitiva.
Ele sorri maravilhado com a beleza do universo ao qual ele e nós todos pertencemos.
Mas ele sorri realmente porque vê claramente que a compreensão que alcançou é um caminho possível para qualquer um, para mim, para você.
Por isto tudo o Buda continuará sorrindo, porque acredita que você pode tornar-se um Buda, sorrindo.
Walter Arruda
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