Perguntaram a dois pedreiros o que faziam na mesma obra. Um respondeu que estava levantando uma parede. O outro disse que estava construindo uma catedral. As estrelas sempre levaram o olhar dos homens para o alto. Desde a pré-história até os nossos dias o universo é objeto de estudos. Os conhecimentos de cada época deixaram marcas nas ruínas e nos monumentos que resistiram até nossos dias. Os arquitetos que nos legaram as maravilhas da Idade Média certamente olharam para o alto e desafiaram os céus. As catedrais góticas, consideradas obras de grande vulto para o século XI emocionam e nos levam a pensar quais os segredos que guardam essas pedras.
Catedral de Chartres
Os templos antigos nos mostram o cuidado na escolha do lugar. Os egípcios, gregos, romanos, direcionavam suas construções na direção da luz do sol. No livro “O SEGREDO DAS CATEDRAIS’ de Pierre-Alexandre Nicolas, (1) o autor faz uma analise detalhada da Catedral de Chartres. Construída em 1194, reconstruída após um incêndio nos dois séculos seguintes, uniu a natureza mística à natureza naturalista. Enquanto as igrejas românicas tornavam-se obsoletas no séc. XII com suas pesadas paredes sombrias, rígidas as novas técnicas de construção abriam-se para a luz. Tudo girava em torno da Igreja, (teocêntrismo), as cruzadas e o conhecimento do Islã, a formação dos burgos, a burguesia, o aperfeiçoamento da manufatura, reunia-se na arte gótica.
O subsolo seria a verdadeira chave da implantação da edificação. Sob todos os templos há uma fonte d’água, uma queda ou um cruzamento ou confluência.Essas redes sagradas marcam os pontos de irradiação das energias da natureza.
A palavra CATEDRAL- CATEDRA (cadeira) do bispo designa uma igreja de dimensões importantes onde se encontra a Cátedra do bispo. Os grandes arquitetos são na maioria anônimos, o principio do anonimato tinha a intenção de louvar a Deus e desaparecer o artista individual. As oficinas “guildas”formadas pelas corporações dos artesãos, uniam as comunidades em ateliês e oficinas ao lado das construções. As escolas góticas proliferaram na França, na segunda metade do séc. XII. O conhecimento adquirido de outras civilizações antigas (Bizâncio) marcou as cidades de torres e flechas. A genialidade desses arquitetos pode ser apreciada até hoje em Laon, Reims, Chartres, Dijon, Paris, Rouen, Bourges e outras cidades da Europa.
Vista lateral da Catedral de Chartres
Seguir a orientação solar, segundo Nicolas, entre os povos da antiguidade era consagrar um lugar em função da luminosidade. Um bastão fincado ao nascer do sol projeta sua sombra no chão, esse eixo chama-se DECUMANUS. Ao meio-dia solar do mesmo dia, a sombra projetada determina o ponto de passagem de um outro eixo que será perpendicular ao primeiro; o CARDO. Assim definia-se a cruz latina, associada à Cruz de Cristo e a representação simbólica do corpo humano.
Os construtores empregavam as medidas do corpo seguindo as leis da natureza. A proporção áurea, usada na vara do arquiteto, era uma progressão harmônica da estrela de cinco pontas. A medida principal é o côvado que representa a parte que vai do cotovelo à ponta do dedo médio. Essa medida padrão é mencionada na Bíblia e usada também pelos egípcios. Além dessa temos; o pé, o palmo, a palme e a palma.
A braça como medida foi pouco usada pelos cristãos. A soma do côvado, do pé, da palma, do palme e do palmo, determinava o valor exato tendo o mesmo papel do metro padrão. Esta vara devia passar de mão em mão, seguindo às vezes várias gerações de arquitetos, pois algumas construções exigiam séculos para serem concluídas.
O homem de Vitruvio dentro do quadrado e do circulo
“O homem é a medida de todas as coisas” segundo Pitágoras e as medidas antropométricas (antropos –homem) variavam de culturas. A Bíblia cita a Arca de Noé com 3 andares tendo de comprimento 300 côvados e de largura 50.
As estruturas geométricas da catedral seguem a lenda do Graal (taça do conhecimento e receptáculo da sabedoria segundo os Celtas). As tábuas que sustentavam o Graal eram redonda, quadrada e retangular. Assim encontramos no eixo da catedral (decumanus) idênticas formas. A tábua quadrada é a estabilidade da terra e os pontos cardeais (corpo), a retangular a elevação (alma) e a redonda circular, as esferas celestes, sol e lua (espírito). A semelhança do homem de Vitruvio dentro do quadrado e do circulo.
Vitral da Catedral difundem a luz
A escala do gigante de pedra é monumental, sombras associadas as trevas e luzes celestiais guiam o visitante na direção do coro iluminado. Os pilares lembram florestas, com arcos duplos e ogivais, como arvores. Forças vitais emanam energias e provocam o envolvimento espiritual. Harmonia , beleza e paz restauram o equilíbrio no silencio. A nave, comparada ao navio, transporta os fiéis as altas esferas da religião. Os vitrais instrumentos de transmutação canalizam e difundem a luz. As rosáceas, como um olho, espalham um turbilhão de energias. Os sinos repicam e anunciam os ofícios religiosos.
O sentimento de magnitude realiza-se na grande caixa de ressonância com os acordes do órgão. Uma acústica perfeita ressoa de acordo com as notas impressas em seus comprimentos e seus volumes.
Ao considerar, passo a passo, os elementos construtivos da catedral, somamos a arte gótica a beleza medieval um valor inestimável ao conhecimento dos segredos da vida. O lugar do culto é o lugar da cura. A correspondência entre arte e religião, matéria e espírito, é revelada nas catedrais através dos monges, arquitetos, artesãos, artistas e trabalhadores cujo sangue misturou-se as pedras transmitindo a toda humanidade a beleza do sagrado.
Anna Maria Martins
http-//www.ricardocosta.com
http-//2.bp.blogspot.com
http-//3.bp.blogspot.com
http-//www.viajarentreviagens.pt
Capa/http-//cestovanie-dovolenka.sk
Club50mais
Pasquale
teste
Pasquale
teste
teste
teste