Quando eu estava dirigindo do trabalho para casa hoje à noite, ouvi uma canção de Elton John, que já ouvi um milhão de vezes:“Eu espero que você não se importe/ que eu tenha colocado em palavras / como a vida é maravilhosa enquanto você está aqui no mundo.” Pela primeira vez, em 40 anos ouvindo essa música, eu chorei um pouco.
Acompanhe-me: eu tenho que colocar a minha cadelinha pra dormir depois de amanhã. Tallulah não é qualquer tipo de raça especial ou elegante. Ela é uma vira-lata amarela de tamanho médio que eu encontrei em uma estrada de duas pistas há oito anos. Eu estava no meu caminho para uma entrevista de emprego em Raleigh quando a vi sentada da maneira como ela sempre faz, com suas patas dianteiras viradas para dentro, calmamente assistindo os carros passarem.
“Isso foi um …? Oh, não,” eu disse, virando o meu carro. Ela tinha três meses de idade, e provavelmente pertencia a alguém de um dos trailers estacionados a distância. Mas como nenhum desses reboques tem um cercado no quintal, ela deve ter saído para passear na estrada. Ela era muito magrinha. Eu podia sentir seus pequenos ossos enquanto eu a segurava com a minha roupa bonitinha da entrevista, o rabo batendo contra a minha blusa escolhida para significar “Eu sou um profissional”. Ela era um tiquinho, do tamanho de um bolo de criança.
Eu vi o sol brilhar através de seus cílios de ouro e lá estava ela, a segunda vez que senti amor à primeira vista. Eu cancelei a entrevista e a levei para casa. Eu nunca tinha tido um cãozinho antes ou, neste caso, roubado um.
Nos oito anos que tive Tallulah, mudamos três vezes, vivi com dois homens, um outro cão e nove gatos. Estes últimos oito anos foram cheios de mudanças, que foram da euforia para as profundezas da tristeza. Através do meu divórcio, perda de emprego e o início e o fim de um outro relacionamento, Tallulah ficou ao meu lado estoicamente, com os pés voltados para dentro.
Ela nunca foi de demonstrar excitação ou muita alegria. Ela nunca, nem uma vez, lambeu meu rosto como os cães fazem em comerciais. Suas paixões são limitadas.
Você a leva a um parque e ela se vira como o vento. Você pega um tira gosto qualquer, ela vai te olhar e fazer um buraco em sua alma, sem piscar, olhos atentos até que ela libera sua arma final: a pata da insistência. A pata fica mais e mais pesada em sua perna até finalmente você ceder e compartilhar a comidinha.
Fora isso, ela praticamente sempre foi muito fria. Novas pessoas, novos gatos, novas casas, nada a modifica. Como uma daquelas estátuas da Ilha de Páscoa desprezando tudo ao seu redor.
É por isso que me preocupou quando ela começou a tremer. Eu tinha ido morar com meu namorado, com quem eu gostava de discutir. Nós nos amávamos de maneira dura e brigávamos com certa violência. Eu nunca tive brigas assim com ninguém, e estava no meio de uma quando eu vi Tallulah tremendo. Mortificada, corri para ela, e segurei-a até ela parar.
Depois disso, ela se tornou a polícia emocional. Sabe como alguns cães podem sentir quando alguém vai ter uma convulsão? Tallulah sentia quando o clima mudava entre mim e meu namorado. Ela vinha para o quarto, gemendo, e colocava a pata da insistência sobre um de nós. Isso normalmente nos fazia rir, mas se uma discussão irrompia ela se agitava novamente.
Começamos a deixá-la fora quando nós discutíamos, para ela ficar menos traumatizada. Mas uma noite, eu estava entrando no meu carro depois de uma discussão e ela saltou no banco da frente comigo, como se dissesse, “Vamos dar o fora daqui.” Fomos juntas.
Levei alguns meses para entender que ela sabia o que eu não percebi antes: que estar em um relacionamento volátil era inaceitável. Não era justo para mim, ou para o namorado e certamente não era justo para Tallulah. Essa cachorrinha me salvou de ficar vivendo algo que era ruim para mim, algo em que eu teria insistido muito mais tempo, porque eu era ridícula no amor.
Foi logo depois que nos mudamos que ela ficou muito doente. Ela começou a urinar na casa, e uma noite subiu em cima de mim e me fez segurá-la durante toda a noite enquanto ela dormia.
Tallulah tem câncer de bexiga, sem chance de cura. Às vezes, eu me culpo: será que de alguma forma alterei suas células com o stress de meu relacionamento?
As pessoas me diziam que quando for a hora de deixá-la ir, ela vai me dizer. Mas eu não quero que ela tenha que me dizer. Eu não quero isso, dela ficar tão ruim que vai parar de comer ou caminhar ou aproveitar a vida.
Assim, depois de amanhã, ela terá fígado para café da manhã, uma longa corrida no parque do cão se ela for capaz, uma caminhada com meus amigos na parte da tarde, e às 4 horas, o veterinário está vindo e Tallulah será colocado para dormir na minha cama. Ou no sofá proibido. Ela pode ir onde diabos ela quiser.
Espero que esteja fazendo o bem para ela, como sempre ela fez por mim. Quando isso acabar, eu pretendo espalhar algumas de suas cinzas em nossos lugares de caminhadas a pé, e eu quero guardar um pouco para o lugar onde eu a encontrei, há oito anos, com os pés para dentro.
Eu sempre serei feliz por ter conhecido você, Tallulah.
Obrigado por me salvar. E eu espero que você não se importe que eu tenha colocado em palavras como a vida foi maravilhosa enquanto você esteve no mundo.
Karen Sommerfeld (http://www.purpleclover.com)
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